Um vídeo da fotógrafa Alex Farfuri mostrando Tel Aviv durante a guerra com o Irã se tornou viral. Nele, podemos ver o calçadão da Cidade Branca lotado de pessoas. Apesar dos bombardeios iranianos incessantes e dos enormes danos que a cidade sofreu com os ataques de mísseis, podem-se ver centenas de pessoas correndo, caminhando, rindo com os amigos – em suma, aproveitando a vida.
Este vídeo poderia resumir a sociedade israelense em uma palavra: resiliência.
O jornalista Nadav Eyal bem escreveu em seu tweet:
“Passei as primeiras duas semanas e meia de junho em Tel Aviv, incluindo o início da guerra com o Irã — e foi exatamente isso que senti. A resiliência israelense é difícil de entender.
Para aqueles que comentam sobre diversidade: observem com mais atenção. Vocês veem aqui israelenses de todas as origens — norte-africanos, europeus, descendentes de árabes. Há 168.000 judeus de ascendência etíope em uma população de 10 milhões.
O que vocês testemunham é a vibração de Tel Aviv: aberta, diversa, jovem, trabalhadora e festeira.
Sim, a sociedade israelense é realmente muito resiliente. No entanto, ao falarmos de sociedade, é importante dar a devida atenção as diferenças existentes entre os diferentes grupos que a compõe.
Os resultados de enquetes públicas realizadas durante os 12 dias de guerra revelam as diferentes facetas desta sociedade - principalmente as existentes entre os judeus e os árabes.
Apoio judeu, receio árabe.
As lacunas entre árabes e judeus perante a guerra são gritantes.
Enquanto que 88-92% do público judeu apoiou o ataque surpresa ao Irã e 86.5% acreditou que as considerações feitas para lançar o ataque foram relacionadas à segurança do país (e não a considerações pessoais do primeiro ministro Netanyahu), apenas uma minoria entre os árabes apoiou o ataque (16-23.5%) e relatou acreditar que o motivo dele foi relacionado à segurança nacional (33%).
As diferenças entre árabes e judeus foram vistas até na porcentagem de pessoas que relataram sentir sentimentos negativos durante a guerra, como estresse, ansiedade e medo. Estes, que é de se esperar que sejam sentidos em alta quantidade entre todos os cidadãos, foram mais vistos na população árabe do que na judia.
Entre os judeus, os resultados de diferentes pesquisas mostram um panorama complexo: o Israeli Democracy Institute relata que 66% do público judeu está preocupado com sua segurança física e a segurança de suas famílias (dos quais, cerca de 19% demonstraram estar muito preocupados). Ao mesmo tempo, os resultados da pesquisa do Institute for National Security Studies (INSS) indicam que uma maioria (76%) sente um senso de segurança de moderado a alto.
"Nine, para vocês essa guerra foi boa ou vocês tiveram um medo de um avanço nela?"
Essa pergunta eu recebi de um amigo de infância, à qual respondi:
"Esses 12 dias foram muito difíceis. Mas algo que eu acho muito interessante em Israel é que a grande maioria, eu incluída, estava a favor do ataque contra o plano nuclear do Irã.
É difícil para quem não mora aqui, ou até pra quem não mora no Oriente Médio em geral, entender.
É melhor ter um perigo imediato de alguns dias (nós estávamos preparados inclusive para semanas de guerra!) mas saber que o maior perigo de todos, que é o nuclear, foi atacado, do que ficar na incerteza do que o Irã vai ou não vai fazer conosco se ele conseguir construir uma bomba atômica."
Acredito que isto que eu disse para Thiago demonstra os sentimentos que sobem dessas pesquisas: sim, estivémos prepocupados com nossa segurança e a de nossas famílias. Mas ao mesmo tempo, tivemos um sentimento de segurança alto por saber que o maior perigo de todos estava sendo aniquilado.
É complicado?
É.
Welcome to Israel.
Ao contrário dos judeus, a situação entre o público árabe reflete um quadro negativo relativamente simples: cerca de 89% deles relataram estar preocupados com sua segurança física e a segurança de suas famílias (dos quais cerca de 64% estiveram muito preocupados) e 68% relataram sentir uma sensação de segurança baixa a muito baixa.
O alto nível de estresse também se expressa no medo de um agravamento da guerra entre os países: enquanto cerca de 67% dos judeus demonstraram estar preocupados com isso, a taxa entre os árabes foi 15% maior.
Além disso, os judeus acreditam mais do que os árabes (91.5-66% em comparação a 35-36%) que a sociedade israelense (“a frente interna”, “oref”) está preparada e pronta para lidar com a guerra com o Irã.
Não é de surpreender que a confiança nas instituições estatais também seja muito menor entre os árabes. Enquanto cerca de 46% do público judeu demonstrou acreditar que o governo israelense tinha um plano para encerrar a guerra, apenas 20,5% dos árabes demonstraram acreditar nisso.
Uma luz no fim do túnel (?)
Apesar do quadro negativo visto entre os árabes israelenses, eu gostaria de propor um ponto de vista positivo na opinião pública desta população - há sinais de um aumento da confiança em instituições exclusivamente relacionadas às Forças de Defesa de Israel (IDF).
Podemos ver nas pesquisas feitas mensalmente pelo INSS que houve um aumento significativo na confiança dada pelos árabes ao Chefe do Estado-Maior Eyal Zamir, ao Porta-Voz do exército, às Forças Aéreas e até à própria IDF. De uma forma impressionante, a confiança no exército israelense chegou a um pique antes visto apenas em agosto de 2024.
Por que este assunto é importante ?
O Estado de Israel enfrenta desafios de segurança sem precedentes desde o 7 de outubro. Sua capacidade de resistir a esses desafios também depende, em grande medida, da maneira como sua sociedade e suas pessoas lidam com a realidade complexa. Em uma situação ideal, toda a sociedade demonstraria alta resiliência, ou pelo menos a diferença entre os grupos que a compõem seria baixa.
Este não é o caso de Israel.
A sociedade árabe, que hoje representa cerca de um quinto da sociedade israelense, apresenta uma resiliência particularmente baixa, e suas lacunas em relação às posições dos judeus são muito significativas.
Essa situação demonstra a necessidade de Israel continuar investindo nesse grupo minórico, a fim de construir confiança entre as partes (entre a sociedade árabe, o Estado e os judeus) e melhorar a maneira como os árabes lidam com situações complexas de segurança – que ainda haverão muitas no futuro, como sempre houveram ao longo da história do Estado de Israel.

As pesquisas detalhadas
De acordo com a pesquisa do Israel Democracy Institute, que foi feita entre 15 e 17 de junho (N = judeus - 594; árabes - 143):
82% do público judeu apoia o ataque que Israel lançou por iniciativa própria contra o Irã, em comparação com 11% do público árabe.
Em relação aos motivos do Primeiro-Ministro para lançar um ataque ao Irã neste momento, cerca de 68% do público judeu acredita que considerações objetivas de segurança levaram Benjamin Netanyahu a fazê-lo, em comparação com 18,5% do público árabe.
Enquanto 66% do público judeu relatou estar preocupado com sua segurança física e a segurança de suas famílias em um futuro próximo (dos quais, cerca de 19% estão muito preocupados), cerca de 89% do público árabe se sente assim, dos quais cerca de 64% estão muito preocupados.
Em relação à resiliência - 91.5% dos judeus relataram acreditar que a resiliência do público israelense em frente à guerra é alta, em comparação a 35% dos árabes.
O Institute for National Security Studies (INSS) fez duas pesquisas durante a guerra - a primeira entre os dias 15-15 de junho (N = judeus - 800; árabes - 151) e a segunda entre 22 e 23 de junho (N = judeus - 799; árabes - 154). Nelas:
Enquanto cerca de 88% do público judeu apoiou o ataque de Israel ao Irã, entre o público árabe a taxa é de 16%.
Em relação aos motivos para ir à guerra, cerca de 86% do público judeu acredita que as considerações estão relacionadas à segurança, em comparação com 33% do público árabe.
Enquanto cerca de 67% dos judeus estão preocupados com o desenvolvimento da guerra entre os países, a taxa entre os árabes é 15% maior. No final da guerra, a porcentagem de judeus que estavam preocupados com o desenvolvimento da guerra diminuiu (61%), enquanto que a dos árabes continuou a mesma.
Os judeus acreditam mais do que os árabes que a sociedade israelense (“frente interna”, “oref”) está preparada e pronta para lidar com a guerra com o Irã - cerca de 66% entre os judeus, em comparação com cerca de 36% entre os árabes. A diferença entre os dois grupos aumentou no final da guerra: o número de judeus aumentou para 70% enquanto que o dos árabes diminuiu para 31%.